domingo, 25 de maio de 2008

Um problema de todos

Especialista em educação rural fala sobre os avanços e dificuldades da reforma agrária brasileira


Mônica Castagna Molina é professora da Universidade de Brasília (UnB), onde coordena a licenciatura em Educação do Campo e o Grupo de Trabalho de Apoio à Reforma Agrária. Especialista em educação, coordenou também o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária, entre 2004 e 2006. Em entrevista ao Jornal Na Prática, Molina, autora e co-autora de mais de uma dezena de livros, explicou as dificuldades da educação rural, a importância da reforma agrária no Brasil industrial e globalizado e defendeu uma participação maior da universidade pública nas questões sociais.


Você poderia explicar os objetivos do Grupo de Trabalho que comanda na UnB?

Os principais objetivos são fazer com que a comunidade universitária compreenda a gravidade do problema. Entenda que a questão agrária não envolve apenas os trabalhadores do campo, mas toda a sociedade. E nós, como uma universidade pública, temos o dever de participar. Também queremos produzir conhecimento, desenvolver a matriz tecnológica, sistemas de produção e hortas orgânicas para dar melhores condições de produção aos trabalhadores.

Existe uma crítica à falta de envolvimento da academia com o dia-a-dia da sociedade. Como você enxerga isso?

Os projetos de extensão são muito importantes, mas são poucos. Tem gente fazendo, mas deveria haver mais investimentos em extensão. A intenção não é ser assistencialista, mas ajudar, produzir junto com os trabalhadores.

Qual é a importância da reforma agrária no Brasil globalizado do início do século 21?

A questão agrária é um problema social que atinge quase cinco milhões de pessoas, que não têm trabalho, não têm como se sustentar. A reforma agrária é importante para acabar com o desemprego rural, criar uma fonte de geração de renda para essas famílias.

O modelo de reforma agrária implantado pelos governos brasileiros é adequado?

É preciso melhorar muito. [A solução] não é só terra. São necessárias políticas públicas de assistência tecnológica, crédito facilitado, educação e incentivo a criação de cooperativas. Políticas que possibilitem a comercialização da produção, que permitam aos trabalhadores rurais viver do seu trabalho.

A reforma agrária teve avanços no governo Lula, em comparação com governos anteriores?

Houve melhora, principalmente um maior apoio ao conhecimento. Há um crescimento nos recursos do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária e uma maior participação do MEC nessas questões. Ainda precisa melhorar, mas está havendo uma transformação.

Em que condição se encontra a educação no campo brasileiro?

Ruim. Um dos problemas é a descontextualização da educação no campo. A educação precisa ter qualidade, mas também precisa estar contextualizada à realidade daquele lugar. Também não há formação e preparo de educadores. Um problema sério é a falta de oferta de educação. Na maior parte da zona rural não existem escolas acima da 4ª série. Não é possível cumprir a obrigação constitucional de dar ensino público e gratuito até o fim do ensino médio, porque não existem escolas.

Os problemas educacionais do campo em geral são os mesmos dos assentamentos da reforma agrária, em particular?

Sim. Os problemas de educação são muito parecidos.