domingo, 25 de maio de 2008

Texto e imagem

Jornalista Paulo Ramos diz que visão sobre as histórias em quadrinhos está mudando, mas que jornalismo especializado ainda passa por dificuldades


Nos últimos anos, as histórias em quadrinhos (HQs) tem passado por um processo de aceitação como meio de comunicação capaz de produzir conteúdos de qualidade e relevância artística. Em meio a este processo, está o crescente mercado de quadrinhos em livrarias e o aumento do número de pesquisas acadêmicas sobre o tema. O jornalista, professor e pesquisador Paulo Ramos é uma testemunha privilegiada desse processo.

Co-autor de "Como Usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de Aula", publicado pela Editora Contexto, Ramos é professor de jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo e integra o Observatório das Histórias em Quadrinhos na USP. Também é consultor de língua portuguesa da Folha de São Paulo e do UOL, onde mantém o Blog dos Quadrinhos. Na entrevista a seguir, Ramos fala sobre o mercado brasileiro de HQs, a função dos estudos acadêmicos sobre elas e como é fazer jornalismo especializado em quadrinhos no Brasil.


Você acha que a transição das HQs das bancas para as livrarias tem sido boa ou ruim para o mercado brasileiro?

Não sei se podemos rotular esse comportamento de "bom ou ruim". Ele simplesmente está acontecendo, a exemplo do que já se vê na França, por exemplo. O que se pode perceber é que as livrarias encontraram um novo nicho de mercado, o leitor adulto com maior poder aquisitivo e que efetivamente compra quadrinhos. O crescimento do setor, nos últimos anos, foi de 30%. E as editoras acompanham essa tendência.

Existe uma diferença entre o mercado brasileiro de quadrinhos e o mercado de quadrinhos brasileiros. Como você vê o momento de cada um?

Historicamente, os quadrinhos -e, conseqüentemente, seu mercado- foram vistos à margem do meio editorial. Prova disso é a quase nulidade de estudos e levantamento a respeito. Tinha-se a visão de que quadrinhos são coisa de criança e que são vendidos em banca. A ida às livrarias, nicho dominado pelos chamados "formadores de opinião", mudou um pouco essa visão. É esse o momento que vivemos hoje no país.

Na sua opinião, porque temos dificuldade de criar quadrinhos com uma identidade nacional, invés de copiar escolas estrangeiras?

Discordo. Houve uma época em que os desenhistas faziam, sim, cópias dos quadrinhos norte-americanos de super-heróis. Hoje, ainda se vê muita reprodução do estilo dos mangas [nome dado ao quadrinho japonês]. Mas se vê mais autores com estilo pessoal, muito por causa do fortalecimento do movimento independente e da abertura de espaço em algumas editoras. Nosso humor, e isso não é de hoje, tem cara própria e é um dos melhores do mundo.

Você é professor e desenvolve pesquisas sobre quadrinhos. Como a academia enxerga as HQS hoje?

A visão da academia, pelo que percebo, tem mudado. Tanto que aumentou significativamente o número de pesquisas sobre o tema. Esse comportamento é recente. Muitos desses pesquisadores dizem ter sentido um pouco de preconceito ou de inferiorização do tema abordado. Mas, aos poucos, parece estar mudando.

Por que é importante a universidade estudar quadrinhos?

Cada área encontra respostas e aprofundamento por meio dos estudos acadêmicos, desde novelas às novas pesquisas sobre células tronco. Abordar quadrinhos em pesquisas científicas ajuda a compreender o fenômeno, que existe há mais de um século. Automaticamente, esses estudos agregam autoridade ao objeto analisado, no caso os quadrinhos. É o que faltou nas últimas décadas no Brasil, muito por puro preconceito ou desconhecimento sobre a área.

O aumento do número de pesquisas também tem se traduzido em um aumento de qualidade e diversidade das mesmas?

Tenho participado de algumas bancas de mestrado e de doutorado. Neste ano, fui a duas e, neste mês, a uma terceira. Percebo nos estudos a mesma seriedade que vejo em outras pesquisas a que tenho acesso.

Apesar da maior atenção da grande mídia com o tema, o jornalismo especializado em quadrinhos ainda é insipiente no Brasil. Por que?

Acredito que seja uma conseqüência histórica de os quadrinhos terem sido colocados à margem dos fenômenos de comunicação de massa. O boom de estudos é recente, embora tenhamos pesquisas pioneiras na década de 1970. O jornalista fica à margem dos interesses da mídia, que não demonstrava tanta atenção aos quadrinhos. Muitos profissionais até se sujeitavam - e se sujeitam ainda - a trabalhar de graça, por puro amor à área. Com isso, tinham de exercer outras atividades para sobreviver. Uma hora, a pessoa cansa.

Quais são as diferenças entre o jornalismo especializado em HQs e o jornalismo em geral?

No meu entender, nenhuma. Notícia é notícia, apuração é apuração. O que deve haver, no entanto, como em tantas outras áreas, é uma especialização no assunto abordado, seja quadrinhos, seja automóveis, seja culinária, seja cinema, seja política.

Quais são as maiores dificuldades que você encontra na produção de jornalismo sobre quadrinhos?

O que vejo é que muitos dos colegas trabalham sem receber. Isso ainda é o principal impeditivo da área, somado à visão de que quadrinhos não são um assunto tão sério assim.

Você comanda o Blog dos Quadrinhos, no UOL. Qual é a importância dos blogs para o jornalismo atual?

Não creio que sejam especificamente os blogs, mas a internet em si. As principais informações sobre quadrinhos hoje na imprensa em geral estão na internet. As demais mídias informam esporadicamente e, salvo alguns casos, com notícias velhas. Para se informar bem sobre o assunto, hoje, só com a internet.

Ainda é importante um blog estar vinculado a um jornal ou revista de renome?

Na minha interpretação, sim. Porque agrega a credibilidade do veículo à página virtual. Isso amplia o número de leitores e atinge as pessoas que gostam pouco ou simplesmente desconhecem quadrinhos. Chegar a esse público ajuda a reduzir a resistência sobre o tema, inclusive jornalisticamente. É um dos desafios que enfrento diariamente no Blog dos Quadrinhos, que tem conseguido alcançar essas pessoas.

Um problema de todos

Especialista em educação rural fala sobre os avanços e dificuldades da reforma agrária brasileira


Mônica Castagna Molina é professora da Universidade de Brasília (UnB), onde coordena a licenciatura em Educação do Campo e o Grupo de Trabalho de Apoio à Reforma Agrária. Especialista em educação, coordenou também o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária, entre 2004 e 2006. Em entrevista ao Jornal Na Prática, Molina, autora e co-autora de mais de uma dezena de livros, explicou as dificuldades da educação rural, a importância da reforma agrária no Brasil industrial e globalizado e defendeu uma participação maior da universidade pública nas questões sociais.


Você poderia explicar os objetivos do Grupo de Trabalho que comanda na UnB?

Os principais objetivos são fazer com que a comunidade universitária compreenda a gravidade do problema. Entenda que a questão agrária não envolve apenas os trabalhadores do campo, mas toda a sociedade. E nós, como uma universidade pública, temos o dever de participar. Também queremos produzir conhecimento, desenvolver a matriz tecnológica, sistemas de produção e hortas orgânicas para dar melhores condições de produção aos trabalhadores.

Existe uma crítica à falta de envolvimento da academia com o dia-a-dia da sociedade. Como você enxerga isso?

Os projetos de extensão são muito importantes, mas são poucos. Tem gente fazendo, mas deveria haver mais investimentos em extensão. A intenção não é ser assistencialista, mas ajudar, produzir junto com os trabalhadores.

Qual é a importância da reforma agrária no Brasil globalizado do início do século 21?

A questão agrária é um problema social que atinge quase cinco milhões de pessoas, que não têm trabalho, não têm como se sustentar. A reforma agrária é importante para acabar com o desemprego rural, criar uma fonte de geração de renda para essas famílias.

O modelo de reforma agrária implantado pelos governos brasileiros é adequado?

É preciso melhorar muito. [A solução] não é só terra. São necessárias políticas públicas de assistência tecnológica, crédito facilitado, educação e incentivo a criação de cooperativas. Políticas que possibilitem a comercialização da produção, que permitam aos trabalhadores rurais viver do seu trabalho.

A reforma agrária teve avanços no governo Lula, em comparação com governos anteriores?

Houve melhora, principalmente um maior apoio ao conhecimento. Há um crescimento nos recursos do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária e uma maior participação do MEC nessas questões. Ainda precisa melhorar, mas está havendo uma transformação.

Em que condição se encontra a educação no campo brasileiro?

Ruim. Um dos problemas é a descontextualização da educação no campo. A educação precisa ter qualidade, mas também precisa estar contextualizada à realidade daquele lugar. Também não há formação e preparo de educadores. Um problema sério é a falta de oferta de educação. Na maior parte da zona rural não existem escolas acima da 4ª série. Não é possível cumprir a obrigação constitucional de dar ensino público e gratuito até o fim do ensino médio, porque não existem escolas.

Os problemas educacionais do campo em geral são os mesmos dos assentamentos da reforma agrária, em particular?

Sim. Os problemas de educação são muito parecidos.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Retração do mercado de discos atinge pequenos lojistas


Grandes cadeias não sofrem, mas fechamento das pequenas lojas deve continuar em ritmo acelerado

Nos últimos anos a queda na venda de CDs tem sido de cerca de 10% ao ano, segundo estimativas da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI). No Brasil não é muito diferente e, mais do que as gravadoras, isso tem afetado os pequenos e médios lojistas do ramo. A rede de discotecas 2001, que já teve 14 lojas na cidade, deve fechar seus dois últimos pontos até o final do ano. “Nos últimos cinco anos fechamos oito lojas. Só esse ano já fechamos quatro”, explica Josenei de Sousa, gerente da loja da 108 norte.

Segundo o gerente, vários fatores são responsáveis pelo declínio do mercado. A música digital, a pirataria e o preço dos CDs são os principais. “O preço de CD é uma coisa irreal, não existe. Isso contribui com a pirataria e com os downloads de internet”, defende. Ainda segundo ele, a queda nas vendas na rede 2001 chegou a quase 70% em 2007 em relação ao pico de vendas alguns anos atrás. Josenei prevê que até o fim de 2009 Brasília não tenha mais nenhuma loja que venda exclusivamente discos. “Só lojas de departamento, como a [Livraria] Cultura e a Fnac”, complementa.

De fato, estas parecem alheias à crise. Fábio Herz, diretor comercial da Livraria Cultura diz que as vendas da cadeia não têm caído. Segundo ele, em 2007 a Cultura apresentou um aumento de 23% em número de CDs vendidos. Os recém fechados números do primeiro trimestre de 2008 são ainda mais generosos: um crescimento de 52% em relação ao mesmo período do ano passado.

Herz explica a diferença entre sua loja e o mercado em geral. Segundo ele, a rede não investe em grandes lançamentos ou promoções. “A Cultura sempre esteve focada nos produtos de catálogo, temos um bom acervo de jazz, blues e música clássica”, diz. Para o diretor, ainda há espaço para os discos porque o brasileiro não tem o hábito de comprar pela internet e ainda existe o consumidor que gosta de CDs. “Outra coisa importante é o atendimento. CD é commodity, o importante é pegar o cliente pelo coração”, complementa.

Apesar da realidade conflitante, os números demonstram que a crise do mercado fonográfico é uma realidade, e Josenei de Souza atribui grande parte da culpa às gravadoras. “Elas demoraram muito pra cair na real. Se há cinco ou seis anos as gravadoras tivessem tentado baixar os preços, o mercado não teria chegado onde chegou”, defende. O gerente diz ainda que o preço médio dos CDs de cerca de R$ 30 deveria ser reduzido à metade. “Se tivesse um produto de qualidade com preço bom, as pessoas não iam correr para a pirataria”, defende.

Mas talvez o modo de consumir música esteja mudando radicalmente, independente do preço dos CDs. Josenei e Fábio Herz concordam que o público que consome discos atualmente é de alta renda e de meia idade. Existem também aqueles colecionadores, que até hoje compram discos de vinil. “O público geral consome qualquer coisa. Baixa [da internet], compra pirata, depois joga fora”, diz o gerente da 2001.

Fábio Herz diz que culpar a pirataria é simples e que ela é uma realidade em todo o mundo. Segundo ele, a Livraria Cultura não é muito afetada porque produtos piratas estão muito focados em determinados tipos de música. “Ninguém compra a 9ª Sinfonia de Beethoven pirata”, explica. Apesar disso, o diretor concorda que a forma de consumir música está mudando. Segundo dados da Associação Brasileira de Produtores de Discos, o crescimento das vendas de músicas em formato digital –como o mp3- em 2007 foi de 185% em relação a 2006, somando cerca de 8% do faturamento do mercado fonográfico brasileiro.

Provavelmente devido à chamada exclusão digital o mercado brasileiro ainda é pequeno se comparado ao mercado internacional. Segundo a IFPI, o comércio de músicas digitais já é responsável por 15% das vendas da indústria musical de todo mundo, cerca de R$ 5,1 bilhões. Ainda de acordo com as estimativas da IFPI, o “mercado” de downloads considerados ilegais pela industria musical é cerca de 20 vezes maior do que o legal.

A campeã de vendas digitais em 2007 foi a cantora canadense Avril Lavigne, cuja música “Girlfriend” vendeu 7,3 milhões de arquivos. Neste cenário, os artistas estão fazendo apostas diferentes das gravadoras e lojas de discos, que não ganham nada com os downloads ilegais. Devido à possibilidade de se tornarem mundialmente conhecidos e aumentarem seus ganhos em shows e venda de merchandising, muitos artistas não vêem os downloads chamados ilegais com maus olhos. Mais do que isso, bandas internacionais famosas, como Radiohead e REM, estão adotando a estratégia da venda direta via sites próprios.

As estratégias dos lojistas são outras. De acordo com Fábio Herz, a Livraria Cultura está estudando o que fazer no futuro, quando a mídia CD for substituída. “Talvez vender músicas digitais”, diz. Ainda segundo ele, o espaço em loja deve ser substituído por DVDs ou games. A venda em número de unidades de DVDs na Cultura cresceu 86% no primeiro trimestre desse ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Em relação aos games, Herz diz que estão ganhando muita força. “O público adolescente consome muito. Temos que ficar atentos às novidades”.

Já Josenei de Sousa diz que sua loja ainda aposta em encomendas e em um atendimento diferenciado, mas que a única ação especifica tem sido pressionar as gravadoras por preços menores. “Para vender alguma coisa temos que ter um bom preço. Não tem para onde correr, essa é a verdade”, explica. Mas se as pequenas lojas não tem muita perspectiva, o gerente já fez seus planos para o futuro. “Vou correr pra outro lado. Música não faz mais parte dos meus planos. Pretendo trabalhar no departamento pessoal de alguma empresa”, diz.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Independente Futebol Clube

Circuito Fora do Eixo lança portal para expandir e fortalecer a produção musical independente.


No ar desde abril, o portal Fora do Eixo se destina a abastecer produtores, bandas e jornalistas com informações e discussões sobre a produção independente em todo território nacional. Parte de um projeto maior - o Circuito Fora do Eixo - o site obedece à lógica da livre circulação de informação e é gerido por membros dos coletivos que integram o projeto. No entanto, a comunicação externa ainda é fraca.

Fundado em 2005, o Circuito Fora do Eixo é uma associação de produtoras de eventos, bandas, jornalistas e casas de shows, que procura integrar e estimular a produção musical independente principalmente nos estados que se encontram fora do alcance do eixo Rio-São Paulo. “As metas iniciais eram promover ações que estimulassem a circulação de bandas, produtores e jornalistas, bem como estimular o escoamento de produtos culturais”, explica Marielle Ramires, coordenadora de comunicação do Espaço Cubo, um dos coletivos fundadores do projeto.

Além de informar o público geral e os associados, o portal Fora do Eixo tem o objetivo de aumentar a integração dos diversos setores produtivos da industria musical independente em cada estado. Para gerenciar o site, foi criado um conselho gestor e três “núcleos”: marketing, administrativo e de produção de conteúdo, que conta com editores de Web TV, Web Rádio, Fotografia e Redação.

André Kalil, produtor executivo da Torneira Produções Independentes, única representante de Brasília no Circuito, diz que sua empresa é co-responsável pela área de marketing e redação. “Auxiliamos os grupos de edição, enviando pautas à central”, explica. A Torneira lançou recentemente a Web TV Torneira, um canal no site YouTube que, segundo Kalil, fará parte da Web TV Fora do Eixo. “Ali disponibilizaremos vídeos de nossos eventos”.

Apesar de aumentar a troca de informações entre os associados, o portal ainda não cumpre bem a função de informar a imprensa e o público consumidor de cultura. Muito fechado em si próprio, o Circuito reclama, como todos no meio independente, da falta de exposição e espaço na mídia, mas não tem um sistema eficiente de assessoria de imprensa, por exemplo.

Projeto busca novos caminhos

O Circuito Fora do Eixo funciona de forma horizontal, como uma rede de distribuição de informações e produtos, e a representação local é feita pelos associados, que desenvolvem seus próprios projetos, além de participar de iniciativas integradas do projeto. Atualmente, o Circuito tem representação em 18 estados brasileiros, entre eles todos os das regiões Norte, Centro-Oeste e Sul.

Apesar do nome, hoje o projeto também tem representação no Rio de Janeiro e em São Paulo. “Há muita gente ‘fora do eixo’ no eixo. A questão transpõe a perspectiva geográfica. ‘Fora do eixo’ revela uma condição política”, defende Marielle Ramires. Ainda segundo ela, qualquer coletivo, produtora ou núcleo de produção que se dedique à cultura independente no país pode participar.

Tornar a produção musical independente auto-sustentável é o objetivo final do Fora do Eixo, que tem um sistema próprio de gestão e moeda, os Cards. Essa moeda se insere no conceito de economia solidária defendido pelo projeto, cujo sistema de créditos é baseado na troca de serviços e produtos. “Por meio da troca de serviços e Cards, artistas, produtores e coletivos podem gerir seu trabalho de uma forma que beneficie a todos”, explica André Kalil, da Torneira Produções.

“Bandas hoje consideradas top no circuito independente nacional, como Vanguart e Macaco Bong, começaram suas carreiras trocando apresentações ao vivo por horas no estúdio de ensaio”, exemplifica Ramires, que complementa: “É bem diferente da disputa férrea estabelecida pelo grande mercado, onde quase não há diálogo entre concorrentes”.

Apesar do discurso oficial conter termos como “características socializantes”, “coletivização dos meios de produção” e “alijados pela lógica do grande capital”, o projeto também tem seu lado pragmático. André Kalil diz que estar integrado ao Circuito aumenta a projeção, divulgação e espaço de atuação de sua produtora. Ainda de acordo com ele, é importante Brasília estar representada no Fora do Eixo, pois isso abre espaço para que as bandas locais se apresentem em outros estados, chamando a atenção da mídia independente. “Além disso, o resto do Circuito está de olho no DF”, diz.

Entre outras iniciativas, o Circuito organiza anualmente o Festival Fora do Eixo e o Grito Rock, que este ano aconteceu simultaneamente em quase 50 cidades brasileiras, além das edições estrangeiras em Montevidéu e Buenos Aires. Já o Festival Fora do Eixo acontece anualmente em São Paulo, mostrando para a mídia e público paulista as bandas de outras regiões do país.

“Em Brasília o balanço ainda é fraco, mas a nível nacional o Grito [Rock] é muito articulado e forte, contanto com patrocínio de grandes empresas”, explica Kalil. Marielle Ramires também avalia de forma positiva as conquistas do Circuito. “Cada vez há mais agentes produtivos se integrando e investindo força de trabalho na ampliação desta rede”, diz ela.